sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Despedida

A ti, dedico todas as noite sem dormir
E também as mal dormidas
A ti, dedico as noites nos bares até fechar
E também os uísques baratos
Que tomei na solidão do meu lar.

A ti, dedico os guardanapos rabiscados
Os poemas datilografados
O desenho mal pintado
E os textos não acabados.

A ti, dedico a vida que levei
Os amores que amei
As promessas que eu fiz
As promessas que farei.

Dedico também a ti
Sentimentos que não vivi
Carinhos que não vi
E promessas que não cumpri.

Te dedico minha desculpa
E assumo que tenho culpa
Mas foi uma vez só
Pense, podia ser pior.

Podia?
Um caso seria menos humilhante?
Te faria me perdoar
Ou faria com que se achasse mais insignificante?

Me desculpe, mas não era minha amante
Foi só por dia
E quem diria que por uma noite de prazer
Eu trocaria toda uma vida de alegria?

Cá estou, velho, arrependido
Escrevendo esse bilhete
Torcendo para que, ao ler,
Consiga me perdoar esse amor bandido.

Dedico a ti quase toda a minha vida
A morte, dedico ao erro
De não ter te dedicado apenas um dia
O dia que me arrependo tanto,
Que estou forçando a minha ida.
Adeus.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

A morte antes da vida. A vida depois da morte.

Eu já enterrei amizades
Eu já enterrei amizades eternas
Eu já enterrei paixões
E já enterrei supostos amores

Eu já enterrei desavenças
Eu já enterrei ódios
Eu já enterrei opiniões ruins a meu respeito
E já enterrei opiniões ruins e inapropriadas a respeito de outros

Eu já plantei sementes boas
Eu já colhi frutos ruins
Eu continuo plantando

Plantando para colher amigos como o que já enterrei
Para colher amores que ainda não achei
E para recolher os pedaços de mim que para terra entreguei



domingo, 14 de julho de 2013

O trânsito no Rio.

Eu lembrei de você e tive que dividir a saudade com a culpa. Foi ali, no vão central da ponte Rio-Niterói, que eu desejei nunca ter me despedido, ligar pedindo perdão por não ter ficado mais e poder dar a volta e voltar pros seus braços.
Mas fui eu quem disse "tchau". Sim, eu finalmente disse...
Você bem que insistiu, mas eu, como de costume, insisti mais e dei as costas.
E se eu ligasse? Ia ligar pra falar o que? Que já estava com saudades e que sentia muito? Podia até ser... Mas eu não liguei. Me senti ridícula só de ter pensado na hipótese e não o fiz.
E sobre voltar... Olhei para o outro lado da pista para saber como estava o trânsito, mas, ao tentar verificar, tive de cerrar os olhos por conta do sol forte que batera em minha vista. Depois de tal impedimento, vi que muita gente voltava da praia e, portanto, havia um leve congestionamento.
Tinha como voltar? Tinha.
Tinha se eu me dispusesse a voltar ao início da ponte para então fazer o caminho contrário.
Havia condições para isso? Havia.
Havia desde que estivesse disposta a suportar um certo tempo de espera e de certo estresse por conta do que havia no caminho.
Decidi botar os fones de ouvido e me contentar em fazer o caminho de casa, simplesmente.
Decidi que não tinha volta.

Não tem volta.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A espera e a esperança

Eu ainda esperava o café da manhã na cama, os beijos matutinos despretensiosos, os elogios falsos para o resto do mundo, porém verdadeiros aos olhos de um amante.
Esperava uma rosa vermelha de R$ 1,50 ao final de um dia ruim, ou simplesmente uma visita inesperada no portão de casa aguardando que eu voltasse do trabalho.
Esperava até um e-mail com slides, desses que as tias costumam mandar, desejando-me um bom dia, uma boa tarde, uma boa semana.
Esperava um telefonema...
Na verdade, apenas desejava. Esperar é diferente.

Do café, só sinto o cheiro ao longe. Dos beijos e dos elogios, saudades.
A flor eu só vejo na banca do moço que todo dia me deseja um bom dia, uma boa tarde, uma boa semana... Mas ele não serve.
E no meu e-mail só dá spam. E na vida, também.
Sempre a mesma coisa desinteressante, sempre a mesma coisa descartável...

Descartável... Será?
Se descartei o que não era descartável uma vez, por que não faria duas vezes?

- Oi, boa tarde! Tudo bem? Me vê uma dúzia de rosas cor-de-rosa?

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Um emprego que mal dava pra pagar as contas, um filho crescendo na velocidade da luz e dando cada vez mais despesas e um casamento que um dia já foi casamento.
Quando tinha lá para os dezoito anos, ouviu de todo mundo "essa faculdade de teatro não vai te levar a nada", mas resolveu arriscar e fazer o que lhe dava prazer.
Aprovada. Ingressou na faculdade.
Começou a trabalhar num escritório para poder ter um pouco de independência. Lá conheceu José, filho do dono do escritório, advogado recém-formado e de ótima aparência. Namoraram. Com seis meses de namoro, ele quis ter mais intimidade, convidou-a para morarem juntos em seu apartamento na Zona Sul. Os pais dela não apoiaram. "Você é muito jovem, minha filha. Além do mais, vocês nem se conhecem direito. Com seis meses não dá pra se saber caráter de ninguém." Estava apaixonada e decidida a ir. Fez as malas. "Se for, não volta mais pra casa. Isso que você está fazendo se chama 'dar as costas pra família'." Deu as costas pra família e foi.
Abandonou a faculdade a pedido do namorado e virou dona de casa aos vinte e um anos. Ele saiu do escritório do pai por orgulho e não encontrou emprego melhor.
Todo dia, ao abrir a porta de seu pequeno apartamento no subúrbio, lembra da visão que teve ao virar as costas para os pais: a do corredor do prédio, com o elevador quase chegando ao quinto andar.
É aí que fecha os olhos, encena um choro e morre.

Todo dia.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Sou do tempo em que as pessoas se importavam com as outras, do tempo em que se via o problema do próximo como se fosse consigo mesmo e só então se procurava uma solução.
Sou do tempo em que as pessoas não se orgulhavam de ter um problema maior que o do amigo, do tempo em que se ajudava por ajudar, sem esperar reconhecimento, mas mesmo assim ele vinha.
Sou do tempo que qualquer problema era problema e que as pessoas davam a devida importância a eles, por menores que eles fossem. Sou do tempo que qualquer amigo se tornava um grande amigo mediante o problema do outro.
Ah, o tempo em que se pensava antes de julgar, o bom tempo em que não olhavam só para seus próprios umbigos... O tempo em que havia tempo para tudo, até mesmo para os probleminhas.

O tempo em que existia tempo, porque nos tempos de hoje já não se tem tempo pra nada.

quinta-feira, 31 de março de 2011

A de amor
A de angústia
A de ansiedade
A de adeus

E de 'eu te amo'
E de 'eu gosto de você'
E de 'eu adoro você'
E de 'eu sem você'

I de indispensavel
I de inesquecivel
I de inesperado
I de indiferença

O de otimismo
O de olhos nos olhos
O de olhar perdido
O de ódio

U de união
U de unicos
U de 'um dia foi bom'
U de 'um dia existiu amor, 'eu te amo', indispesável, otimismo e união'