terça-feira, 11 de setembro de 2012

Um emprego que mal dava pra pagar as contas, um filho crescendo na velocidade da luz e dando cada vez mais despesas e um casamento que um dia já foi casamento.
Quando tinha lá para os dezoito anos, ouviu de todo mundo "essa faculdade de teatro não vai te levar a nada", mas resolveu arriscar e fazer o que lhe dava prazer.
Aprovada. Ingressou na faculdade.
Começou a trabalhar num escritório para poder ter um pouco de independência. Lá conheceu José, filho do dono do escritório, advogado recém-formado e de ótima aparência. Namoraram. Com seis meses de namoro, ele quis ter mais intimidade, convidou-a para morarem juntos em seu apartamento na Zona Sul. Os pais dela não apoiaram. "Você é muito jovem, minha filha. Além do mais, vocês nem se conhecem direito. Com seis meses não dá pra se saber caráter de ninguém." Estava apaixonada e decidida a ir. Fez as malas. "Se for, não volta mais pra casa. Isso que você está fazendo se chama 'dar as costas pra família'." Deu as costas pra família e foi.
Abandonou a faculdade a pedido do namorado e virou dona de casa aos vinte e um anos. Ele saiu do escritório do pai por orgulho e não encontrou emprego melhor.
Todo dia, ao abrir a porta de seu pequeno apartamento no subúrbio, lembra da visão que teve ao virar as costas para os pais: a do corredor do prédio, com o elevador quase chegando ao quinto andar.
É aí que fecha os olhos, encena um choro e morre.

Todo dia.

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